PATÓGENOS
EM ANIMAIS SILVESTRES
Se houvesse um declínio
populacional de determinada espécie, qual seria sua hipótese? Com certeza a
maioria das pessoas culparia o desmatamento, afinal na falta de habitat quem
sobrevive? Existem aqueles que culpariam a caça, todos sabem da capacidade de
extinção de espécies por conta da caça abundante. E muitas outras hipóteses
surgiriam, porém poucos levantariam a hipótese da ação de patógenos.
A
maioria das doenças é causada por vírus e bactérias. Incrível como um ser microscópico
consegue afetar organismos complexos como o do homem. Embora existam muitos
estudos sobre as ações patogênicas no homem, pouco se sabe sobre estas ações em
animais silvestres.
Mais
de 75% dos agentes patogênicos humanos são zoonóticos (Taylor et al. 2001), ou
seja, são transmitidos para os seres humanos por outros animais. Isto envolve
um sistema complexo de interações entre os organismos envolvidos na transmissão
da doença. Assim como os animais são capazes de transmitir doenças aos humanos,
nós somos responsáveis, também, por patógenos em outros animais.
As
doenças infecciosas podem ser poderosas forças em populações naturais
(Lafferty, 2008). Se uma doença afetar uma espécie influente, toda a comunidade
poderá sofrer consequências, e pode ocorrer alteração nas cadeias tróficas.
Um estudo realizado com lontras (Lontra longicaudis) na Reserva Natural
Salto Morato, no Paraná, conclui que a presença de parasitas nas fezes de
lontra podem ser um indicativo da pressão exercida, tanto humana como de
animais domésticos, geradoras de uma alta densidade de parasitas no ambiente
estudado. Outro estudo, com cães ferais no sudeste comprova que estes animais
transmitem doenças contagiosas como toxoplasmose, sarcosporidiose e raiva à
animais silvestres.
Figura 1: Lontra longicaudis
Epidemias causadas por doenças
infecciosas em carnívoros selvagens na África e na América do Norte nas ultimas
décadas levaram a declínios populacionais. O crescimento populacional e a
crescente fragmentação das populações tendem a aumentar a taxa de encontro
entre a espécie humana e as demais.
Nenhum estudo sobre ações
patogênicas em animais silvestres foi realizado na Região Sul da Bahia, o que
impossibilita-nos conhecer as consequências de doenças e epidemias nestes
animais, e de tomarmos medidas preventivas sobre as doenças.
Autores:
Débora Rocha Cruz, Éder Pinho Magalhães.
REFERÊNCIAS:
- GALETTI, M. & SAZIMA, I. (2006). Impacto de cães ferais em um fragmento urbano de Floresta Atlântica no sudeste do Brasil. Nat. Conserv. 4, 58-63.
- K.D.LAFFERTY, 2008. Effects of disease on community interactions and food web structure, pp. 205-222 in: OSTFELD, R.S, KEESING, F., EVINER, V.T. (2008). Infectious Disease Ecology: Effects of Ecosystems on Disease and of Disease on Ecosystems. Princeton.(N.J.): Princeton University Press, cop. 2008.
- TAYLOR, L.H., S.M. LATHAM and M.E. WOOLHOUSE, 2001. Risk factors for human disease emergence. Philos. Trans. R. Soc. Lond B. Biol. Sci, 356: 983-989.
- UCHÔA, T., VIDOLIN, G.P., FERNANDES, T.M., VELASTIN, G.O., MANGINI, P.R. (2004). Aspectos ecológicos e sanitários da lontra (Lontra longicaudis OLFERS, 1818) na Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná, Brasil. Cad. Biodivers. 4(2): 19-28.
- Foto: http://natuculturaconservacion.blogspot.com.br/2010/09/lobito-de-rio-lontra-longicaudis.html