quarta-feira, 9 de maio de 2012

Cacau a pleno sol! - “A cabruca corre perigo”


“No sul da Bahia cacau é o único nome que soa bem. As roças são belas quando carregadas de frutos amarelos. Todo princípio de ano os coronéis olham o horizonte e fazem as previsões sobre o tempo e sobre a safra”. Jorge Amado (1912-2001)

Todos na região sul da Bahia, principalmente nas cidades de Ilhéus e Itabuna, conhecem a importância que o cacau teve e vem tendo (em menores proporções na atualidade) desde 1746, ano que a Cultura do cacau foi implantada na Bahia. Sendo uma planta de ambiente úmido nativa das florestas da América, ela vegeta bem no sub-bosque e encontrou aqui na região sul da Bahia o ambiente propicio para o seu cultivo. A região sul Baiana é caracterizada por suas riquezas e magnitude da floresta tropical local, pela alta diversidade de fauna e flora existente em sua maioria endêmica da região além de tudo a pequena porcentagem do que sobrou da Mata Atlântica brasileira está contido na região nordeste do Brasil principalmente na região sul baiana.
O cacaueiro é cultivado aqui na região de forma bastante peculiar, as plantas de cacau foram implantadas no sub-bosque da mata atlântica, essa “consorciação” trouxe alguns benefícios para ambas, para o cacau uma das vantagens foi a sombra e o ambiente úmido produzido pelas grandes árvores, já para a Mata  Atlântica a única vantagem foi, não ser devastada para dá espaço para a implantação de mais plantas de cacau, esse sistema  de cultivo “agro florestal” ficou conhecido como sistema de cabruca.
O sistema cabruca vem sendo implantado há muito tempo, tendo em vista que a produção de cacau neste sistema era bastante considerável em comparação a produção de outras regiões, com isso a região sul da Bahia se tornou a maior produtora de cacau do Brasil pouco tempo depois da sua implantação em grande escala. Com isso a cabruca foi crescendo cada vez mais na região e se consolidando como um “microbioma” de extrema importância no sub-bosque da Mata Atlântica.
Nos anos 90 a baixa nos preços do cacau e a introdução da vassoura-de-bruxa (Moniliophtera perniciosa) fez com que houvesse o declínio da cultura do cacau na região, esforços foram e vem sendo feitos por órgãos como a CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura do Cacau) na tentativa de solucionar o problema. Estudos vêm sendo desenvolvidos por esses órgãos para combater a vassoura-de-bruxa e para obter excelência novamente na produção de cacau na região, clones de plantas resistentes e de alta produtividade é uma das soluções em que esses órgãos vêm trabalhando.

Atualmente, alguns pesquisadores propuseram como solução para o declínio da cacauicultura na região, uma mudança no sistema de cultivo, ou seja, ao invés de plantar o cacau no sistema cabruca, seria implantado o cacau a pleno sol irrigado, esse sistema de cacau a pleno sol é comprovadamente caracterizado pela sua alta produção se empregado as adubações e tratos culturais exigidas pelas plantas nessas condições, com isso o rendimento do cacau pode chegar de 50 a 100% nos primeiros dois anos (Alvim, 1966), realmente muito maior se comparado ao cacau no sistema de cabruca.
Com esse novo sistema, os investimentos no cultivo do cacau serão bem maiores, porém a produção também será maior, mas como consequência disso a cabruca deverá dar espaço para introdução desse novo sistema, ou seja, as árvores endêmicas da região, que antes eram uma aliada da cultura do cacau, serão derrubadas para dar espaço para o cultivo em alto escala do cacau. Mas até que ponto isso é necessário? Será mesmo que exterminar um dos biomas mais ricos do planeta em biodiversidade é necessário para que tenhamos o título de “Maior produtor de cacau do Brasil”? Várias espécies de animais e plantas se consolidaram nesse bioma, a modificação desse habitat causará imensos prejuízos à vida desses animais e plantas podendo levar à extinção de vários indivíduos endêmicos dessa região.
Concluindo, deixamos o seguinte questionamento.
Até que ponto a natureza deve ser sacrificada para dar lugar ao artificial?


Por: Acta Maiara E. Maciel.
Marcelo R. Evangelista da Silva.

Referências
DANTAS, P. A. S. Relação entre fertilidade do solo e nutrição do cacaueiro no sul da Bahia. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Produção Vegetal da Universidade Estadual de Santa Cruz; Ilhéus-2011.
ALVIM, P. T. O Problema do Sombreamento do Cacaueiro. Cacau Atualidades, 1966, v. 3, n.2, p. 2-5.

Links Utilizados:
http://www.ceplac.gov.br/radar/sistema_agro.htm (acessado no dia 09/05/2012, as 10hs57min)

2 comentários:

  1. Parabéns! Gostei muito do artigo e gostaria de saber de onde é a primeira foto.
    Adriana

    ResponderExcluir
  2. Obrigado!!! a primeira foto é de uma plantação de cacau no sul da Bahia, mais precisamente na região de ilhéus.

    ResponderExcluir